29th Day-Saturday May 29

May 29th, 2010

29 de Maio, sábado

Pela primeira vez fomos hoje controlados pela polícia rodoviária chinesa, sem qualquer problema.

Apesar da imagem comumente associada à Muralha da China ser bem diferente (grandes blocos de pedra serpenteando os cumes das montanhas), face aos milhares de Km de extensão, é possível observar pequenos troços desta extraordinária estrutura em várias zonas do país, mesmo que se tratem apenas de ruínas em adobe, o material de construção disponível localmente.

Os campos divididos em pequenas parcelas, com camponeses agachados, protegendo-se do sol com os seus chapéus de palha característicos, alguns deles tendo ainda por indumentária os clássicos blusões e boinas azuis, é cada vez mais uma constante nesta zona da China.

Passamos ao largo de Lanzhou, capital da província de Gansu, onde o rio Amarelo (Huang He) se cruza connosco numa primeira vez.

As estruturas mais marcantes e frequentes nesta parte do nosso trajecto são as estufas cobertas com telhados de colmo, enrolados como um tapete, e dentro dos quais os camponeses guardam e secam as suas colheitas, e onde cultivam diferentes produtos, particularmente no inverno, quando as condições climatéricas exteriores são adversas.

As fábricas de tijolos de adobe, de aspecto artesanal, com as bocas dos seus fornos regularmente dispostas, são outra imagem comum.

Mantêm-se os sinais do esforço chinês na construção/reconstrução da rede rodoviária, como foi o caso de uma estrada correndo por entre pequenas montanhas de aspecto terroso, semeadas de pequenas cavernas nas suas encostas, que mais não são do que túmulos, segundo uma tradição desta zona.

O dia acabou, após uma incursão numa pequena cidade super-poluída, com um bacalhau na brasa bem regado com azeite. Não por pirraça, aproveitámos para dar noticias via telemóvel a alguns amigos, companheiros de outras viagens, que ficaram em Portugal.

28th Day-Friday May 28

May 29th, 2010

Dia 28 de Maio, 6ª feira

Reabastecidas as viaturas (o diesel custa aqui 0,67€/litro), optámos por tomar a auto-estrada em direcção a Zhangye, 850Km a sudeste, localizada já noutra provincia, a de Gansu, por onde outrora corria a Rota da Seda.

O governo chinês parece apostado em construir milhares de km’s de novas estradas e auto-estradas, muito semelhantes ás nossas, onde nem as portagens faltam, com tarifas rondando 10RMB/100km. Contudo, parece existir ainda alguma anarquia sobretudo nas zonas em construção, onde as duas faixas num sentido desaparecem sem aviso, e os mais afoitos circulam a grande velocidade, em qualquer direcção, nas faixas aparentemente fechadas.

Grandes campos com novos geradores eólicos e linhas de alta tensão igualmente novas, acompanham o desfilar interminável de enormes camiões de carga que hoje connosco partilham a travessia deste deserto, o terceiro maior da China.

As primeiras tímidas placas alusivas à Expo Shanghai fazem a sua aparição e as indicações em árabe (autonomia Yugur), que acompanham os caracteres chineses, dão agora lugar à preciosa ajuda do alfabeto romano.

27th Day-Thursday May 27

May 29th, 2010

Dia 27 de Maio, 5ª feira

Uma pista no deserto, agora de tonalidade mais escura, entrecortada pro pedaços de estrada em construção, começa a fazer-nos perder a paciência, tal o pó que de novo se entranha nas viaturas e passageiros, agora com mais uma vitima, a chinesita, mais guiada do que guia e que progressivamente se vai integrando nas tarefas rotineiras da expedição.

Uma breve visita a um relicário de dinossauros perdido no meio do deserto, recorda-nos especialmente um dos amigos ausentes, e inicia a subida para um planalto a mais de 1900m de altitude, onde uma imagem deslumbrante à nossa direita de cadeias de montanhas com neve brilhando sobre o sol intenso, cala as conversas durante muitos quilómetros.

A saída deste vale há-de fazer-se por um desfiladeiro de encostas verticais, estorroando-se num tumultuoso rio que sucessivamente cruzamos e que vai comendo os campos que teimosamente os pobres agricultores parecem querer continuar a cultivar, enquanto resistem nas suas casas de adobe.

A pasta das Relações Diplomáticas entregue ao Cerejo reporta a confirmação do convite para almoçar a 1 de Junho na Embaixada de Portugal em Pequim, e é com o pensamento em áreas mais urbanas que entramos em Hami, porventura o nosso primeiro exemplo da China moderna, com largas avenidas arborizadas de aspecto cuidado, onde só a balbúrdia da hora de ponta misturando bicicletas, scooter, peões e carros sob a sinfonia gritante das buzinas, nos transporta ao imaginário da China de antigamente.

A temperatura de 27ºC convida a saborear uma melancia de que esta cidade com 700 000 mil habitantes é a imagem de marca.

Um feliz acaso faz-nos cruzar com a caravana do Rallye de Tukawaitan, onde os nossos Discovery’s são vedetas para a comunicação social da prova, e um Discovery 3 G4 novinho em folha ombreia o nosso laranja que lhe pede meças.

Os mais habilidosos começam a ficar cada vez mais despachados com os pauzinhos quando é preciso atacar o arroz chao-chao.

26th Day-Wednesday May 26

May 29th, 2010

Dia 26 de Maio, 4ª feira

A opção por uma estrada secundária revelou-se acertada do ponto de vista paisagístico, desde logo porque o acampamento da noite passada ocorreu num verdadeiro “spot” verde onde nem a visita de um pastor motorizado, em busca de uma suposta rês tresmalhada, faltou.

Com o Altai e os seus picos nevados por companhia, fomos desfolhando pastores a cavalo, guiando camelos, vacas, cabras e ovelhas, entrando cada vez mais numa China de aspecto pobre, em que as casas de adobe são o denominador comum.

Definitivamente, parece um mundo em extinção, onde as boas estradas parcialmente concluídas, enquadram diques em construção e consequente aproveitamento de águas.

Piquenicámos junto ao Fuhai (“mar abençoado”), um lago salgado dos muitos que existem nesta província e progressivamente fomos entrando na estepe/deserto, ladeando a fronteira da Mongólia a menos de 30Km.

25th Day-Tuesday May 25

May 29th, 2010

Dia 25 de Maio, 3ª feira

As formalidades do dia anterior não haviam ainda terminado. A quase totalidade deste dia foi gasta em interminável espera, saltitando de departamento em departamento, conduzidos pela Susanna, até conseguirmos a inspecção técnica dos veículos, com lavagem prévia obrigatória, as matriculas dos mesmos e as nossas cartas de condução chinesas. Tudo isto sempre sob o olhar curioso de todos quantos se abeiram dos coloridos Land Rover, que haviam ficado em parque fechado desde a tarde de ontem.

Após o reabastecimento num supermercado local (bem fornecido e de preços bem acessíveis), deixámos Tacheng e as suas ruas movimentadas, com grandes praças onde velhos praticam Tai Chi, e lojas vendendo um pouco de tudo, anunciadas por néons garridos ou simples painéis pintados, em direcção ao leste, por uma estrada secundária onde os campos de morangueiros ilustram os primeiros sinais da China rural.

Bem merecido foi o bacalhau português cozido com batatas e ovos chineses, acompanhado por broa da Ti Amélia da Bouça, mãe do Rui Gaspar, e regado com tinto do Douro. Ah!, já tinhamos comprado alhos e ainda havia bagaço de Vale da Serra e café Delta.

24th Day-Monday May 24

May 29th, 2010

Dia 24 de Maio, 2ª feira

Os últimos 280Km conduzem-nos à fronteira de Bakty com a República Popular da China (CHN), 13º e último país da nossa expedição, 24 dias depois.

Se os procedimentos fronteiriços do lado ex-soviético não nos tomam muito tempo, do outro lado a história é diferente. Aguardadas duas horas para a abertura da fronteira chinesa encerrada para almoço, desde o aspecto geral dos edifícios aos uniformes e sobretudo à pose hirta dos militares, tudo aqui é mais elaborado, protocolar e por isso demorado. Ficámos com impressão que cada patamar da burocracia é avaliado pelo patamar seguinte. Felizmente a jovem guia chinesa que somos obrigados a ter por companhia, está já connosco e revela-se suficientemente expedita para nos abreviar a demora. Mesmo assim, mais de quatro horas foram necessárias para ultrapassar esta primeira barreira chinesa, onde conseguimos evitar a revista minuciosa de um dos carros, mas não a confiscação dos alhos e cebolas que trazemos.

Afortunadamente os dois pinheirinhos companheiros, viajando agora no tejadilho, bem como presunto, queijo, chouriço e vinhos, escapam à gula registadora dos oficiais chineses. Não nos livrámos porém da competente desinfestação com direito a spray generosamente distribuído.

Saberíamos mais tarde que tanta curiosidade e empenho se devem ao facto de desde há dois anos sermos os primeiros europeus a transpor esta fronteira, de resto muito sensível por razões que mais tarde tentaremos explicar.

Segunda hora oficial (a de Pequim) levamos agora GMT +7, embora localmente se contem cinco horas de diferença, o que provoca alguma confusão nos menos avisados, como é o nosso caso.

Tacheng, a cidade fronteiriça chinesa, recebe os primeiros cartões de crédito numa ATM local. 1 € = 10 RMB.

23rd Day-Sunday May 23

May 29th, 2010

Dia 23 de Maio domingo

Aproxima-se o dia da entrada obrigatória na China (24 de Maio) e a distância a cobrir é ainda significativa, tendo em conta que pretendemos chegar de manhã, o mais cedo possível, à fronteira.

Um grande nevão caiu esta noite, cobrindo a estrada e os campos. A planície é agora pontuada por montanhas que recortam o horizonte e de que progressivamente nos aproximamos.

Apesar das poucas curvas, chama-nos a atenção o número elevado de campas isoladas junto à estrada, ornamentadas com flores e mesmo objecto (volantes de automóvel por ex..), avivando-nos o espirito para uma rodovia seguramente mortífera. O gelo obriga a cuidados redobrados que não evitam dois ou três sustos, felizmente sem consequências.

As povoações são cada vez mais esparsas e o gasóleo entra no vermelho, sendo necessário o recurso ao expediente da compra a particulares (dois jerricans) para prosseguir viagem, sem a certeza do próximo ponto de reabastecimento.

Uma impressionante pista de terra com mais de 200Km, esburacada, aguça-nos o gosto pela condução fora de estrada e justifica talvez porque os soviéticos escolheram esta zona tão recôndita para uma das suas áreas de investigação e testes nucleares. O antigo Polígono de Semey, bem como a nossa homónima Tomar não ficam longe.

A noite cai e com ela surge um balanço ligeiro desta truculenta travessia do Kazakistão. Ficam-nos o Mar de Aral, verdadeiro caso de estudo de crime ecológico, onde não pudemos ir, fica-nos a impressionante Astana e não menos impressionante agricultura desde os tempos da campanha estalinista das “terras desertas”, fica-nos a omnipresença do presidente Nazerbeyev, ficam-nos as picadas feitas estradas num país imenso a que o petróleo parece trazer nova chama.

Mais de 850Km desde o início da etapa de hoje, somos vencidos pelo cansaço e só nos resta montar acampamento nos arredores da poeirenta Taskesken. De manhã soubemos que havíamos velados pelos ocupantes do cemitério junto ao qual descansávamos.

22nd Day-Saturday May 22

May 25th, 2010

Dia 22 de Maio sábado

Hà uma espécie de atracção dos “jeepeiros” por esse mundo fora, que os faz estar atentos a qualquer oportunidade para trocar impressões com amantes do TT onde quer que seja. A prova disso é que fomos abordados por dois membros do Off-Road Club Astana, ambos de nome Sergei, um deles jornalista do diário mais importante da capital e onde as inevitáveis fotos de reportagem não faltaram. Quiseram guiar-nos numa visita à parte nova da cidade, dominada pela Torre da Paz, ex-libris da mesma, do cimo da qual se obtém uma vista panorâmica desta urbe com mais de meio milhão de habitantes, quando há menos de uma década se resumia a metade.

Apenas nos ocorre o nome de Norman Foster, mas uma gama de reputados arquitectos mundiais assinam uma imensa área de construção e zonas verdes, ainda incompletas, difíceis de descrever, tal a sua imponência e grandiosidade, quando não o arrojo da sua concepção. Resumidamente, qualquer cidade do mundo não desdenharia possuir um centro administrativo e cultural deste gabarito.

Fazendo tempo para em directo, via internet, participarmos num programa da RTP (compromisso a que já havíamos faltado antes), fomos presenteados com um almoço requintado ALI BABA, onde não faltou o típico plov, um prato de carne de cavalo (soubemos depois), no meio de outras iguarias, regadas a cerveja nacional e complementadas por um xiripiti de vodka.

Feitas as contas, era já final da tarde, atrasados portanto, quando deixámos Astana, rumo à fronteira com a China, ainda a mais de 1000Km. Horas depois parávamos em Karaghandy para pernoitar, ficando alojados num antigo albergue russo, tipo camarata, sem água quente ou pequeno almoço incluído e onde a simpatia e a limpeza não abundaram.

21st Day-Friday May 21

May 22nd, 2010

21 de Maio, 6ª feira

É tempo de consertar as mazelas dos nossos bólides e de temporariamente os aliviar-mos do peso interior em pó que transportam, tendo em vista os desafios que os esperam para já até à fronteira chinesa,em Tasheng.
Antes porém temos de resolver o problema do OVIR, espécie de salvo conduto para circular no país, e que consiste no registo pago obrigatório junto das autoridades policiais, assinalando as cidades por onde passamos, e sem o qual não é possível deixar o país.
Os fácies de aspecto mongol não escondem que o Kazaquistão é um país onde a influência russa no passado recente e mais longínquo, deixaram ainda mais de 20% de população com origem étnica daquele gigantesco país.

Tal como havíamos escrito anteriormente, a expectativa com a moderna arquitectura de Astana era grande. Antes disso porém, havia que tratar do OVIR e não foi fácil. Mesmo com o custo de quase 50$ por pessoa, foi preciso esperar para o final da manhã de sábado para, após adiamentos sucessivos, termos em nosso poder esse documento indispensável.

Como havia acontecido no final da nossa passagem pela Rússia, também aqui aproveitámos para actualizar o site até ao possível (a net é lentíssima), lavar os carros e pôr de molho o fiel amigo que nos acompanha desde Portugal, antevendo futuras oportunidades para um repasto capaz de amenizar as saudades da lusitana cozinha.

O frio de Astana, que mal sentimos, é bem combatido por um sistema geral de água quente, proveniente de enormes centrais térmicas localizadas nos arredores da cidade e que fornece as habitações através de grandes condutas (bem inestéticas de resto), que acompanham as principais artérias da parte mais antiga da cidade.

Talvez seja altura para um parêntesis acerca do jeito português para nos relacionarmos com os outros, ou dá-se apenas o caso de o mundo estar cheio de gente boa e só nos apercebermos do que há de mau? É que depois das histórias solidárias de que já demos conta quer na Geórgia, em várias ocasiões, quer na travessia Turquia/Rússia, ou na entrada no Kazaquistão, também Astana nos reservava surpresas agradáveis. A pequena/média avaria de um dos carros, foi reparada numa excelente oficina durante 5 longas horas, e o pagamento resumiu-se a um simples abraço de gratidão e a duas pequenas garrafas de Vinho do Porto que a muito custo obrigámos a que aceitassem. “Just one help”, disseram-nos. Do mesmo modo, aquando da limpeza dos carros, fomos auxiliados por quase uma dezena de Kazakh’s, homens e mulheres, numa espécie de romaria para conhecerem as aves raras lusas que por ali arribaram. Não faltou troca de “recuerdos”, nem sequer cantigas locais acompanhadas pela nossa viola, sempre, bem entendido, com inúmeras fotos a pedido registando a confraternização.

20th Day-Thursday May 20

May 22nd, 2010

20 de Maio, 5ª feira

Queremos hoje chegar a Astana, a nova capital do país em substituição da célebre e antiga Almaty, cumprindo assim a 2ª grande etapa da expedição.
Definitivamente, as infindáveis cearas tomaram conta da paisagem, acompanhando-nos por centenas !!! de quilómetros, onde de vez em quando vê-mos alfaias já obsoletas que se encarregam de contribuir para a produção de trigo, numa área considerada há alguns anos como o celeiro da União Soviética.
De longe em longe, pequenos monumentos evocativos assinalam as unidades produtivas, com datas inscritas do final da década de 50 e 60, não raramente com motivos de ideologia comunista.
Apesar das raras curvas, aquilo a que candidamente se chama M36 (uma via determinante na ligação à capital) não passa de buracos rodeados de asfalto, parecendo mais uma pista que uma estrada.Do mal o menos, mesmo com um amortecedor lesionado, é preferível circular apenas em terra nos campos agrícolas limítrofes, usufruindo de momentos de condução TT que nos são tão caros.
Apercebemo-nos de que nas bombas de combustível há sempre seguranças armados e de que um mero abastecimento obriga a um ritual securitário, no mínimo perturbante para os nossos padrões de vida ocidental. Água ou sanitários é que nem vê-los.
Talvez pelo estado das estradas, mesmo que principais, existem uma espécie de fossas de oficina elevadas, ao jeito de área de serviço despovoada, devidamente assinaladas por sinais verticais, ao que pensamos para facilitar reparações de veículos , seguramente frequentes.
Numa região marcada pela exploração agrícola massificada, os comboios circulam por entre as centrais de recolha, no meio dos enormes silos, para facilmente serem carregados. À volta destes núcleos estão instaladas pequenas casas de telhado zincado, de piso térreo, iguais entre si, com apenas 4×4 m no máximo, que se destinam a alojar trabalhadores agrícolas, e que pouco mais são que barracas.

Astana recebe-nos já noite dentro, e amanhã verificaremos se se justificam os prémios de arquitectura moderna que lhe são atribuídos.
O manto de pó que cobre os carros e viajantes lusitanos não chega para combater o frio. Estão +2º C.

(fotos logo que possível)